Sérgio Ayrimoraes (Instituto Reúso de Água) e Josivan Cardoso (Crea-RJ e CNQA ABES) comentam também a importância do evento para o setor de saneamento, desafios e avanços no cenário brasileiro e contribuições com os outros países.
“Economia Circular e Soluções Baseadas na Natureza” (Tema 3) é um dos destaques da Brazil Water Week – Semana da Água do Brasil 2024, que ocorrerá, de 3 a 7 de junho, em plataforma digital exclusiva e interativa. Em sua 4ª edição, o mais importante evento internacional de discussão de água e saneamento no país é uma realização da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES).
O Tema 3 traz como novidade para os debates das sessões a visão integrada das questões relacionadas ao reúso de água, à gestão e manejo de resíduos sólidos e à adoção de soluções baseadas na natureza com foco em segurança hídrica. É o que afirmam os coordenadores Sérgio Ayrimoraes, cofundador do Instituto Reúso de Água; e Josivan Cardoso, gerente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA-RJ) e secretário geral do Comitê Nacional da Qualidade ABES (CNQA).
Sérgio Ayrimoraes adianta que a discussão será realizada em três sessões técnicas para aprofundar o assunto. “Em comum, uma interface grande entre as políticas nacionais de saneamento, de recursos hídricos e de meio ambiente, bem como em seus reflexos no desenvolvimento socioeconômico e na sustentabilidade das cidades e bacias hidrográficas”, frisa.
Trazendo como temática central “Água e Saneamento para o desenvolvimento sustentável”, a BWW reunirá mais uma vez profissionais de várias partes do mundo e comunidades acadêmica e técnica do país. Trata-se de um encontro que possibilita a troca de experiências, trazendo conhecimento relevante de outras realidades e divulgando internacionalmente as melhores práticas brasileiras.
Na plataforma exclusiva da BWW 2024, serão realizadas 20 sessões de discussão e sessões especiais, nas semanas que antecedem o evento. Os participantes inscritos terão acesso a uma programação exclusiva voltada para compartilhar trocas de experiências nacionais e internacionais sobre oito grandes temas: Inclusão social e acesso universal; Tratamento de esgotos/ETEs sustentáveis; Economia circular e Soluções Baseadas na Natureza; Regulação; Gestão Eficiente; Cooperação Internacional; Financiamento do setor de Saneamento; “Meio Ambiente, Mudança Climática e Segurança Hídrica”.
“Esperamos que as discussões e experiências trazidas pelos especialistas de outros países para os debates possam contribuir para que desafios existentes, bem como indagações anteriormente descritas, sejam enfrentados”, destaca Josican Cardoso sobre a contribuição do Brasil nos debates da BWW 2024.
Leia a entrevista:
Portal ABES Notícias – Como você vê a importância da Brazil Water Week para o setor de saneamento e meio ambiente?
Sérgio Ayrimoraes – Ao longo dos anos, a Brazil Water Week vem se consolidando como o principal evento internacional sobre a agenda da água e do saneamento realizado no Brasil. Nessa trajetória, destaco alguns pontos: (a) a inovação em cada um dos temas selecionados, de forma a não reproduzir abordagens já adotadas em edições anteriores ou em outros eventos recentes realizados no país; (b) a diversidade, ao reunir profissionais de diferentes partes do mundo; e (c) o formato integralmente online, que permite uma maior acomodação e flexibilidade de agenda, tanto para quem participa como palestrante, debatedor ou moderador, como para a audiência.
Josivan Cardoso – Inicialmente, é preciso destacar a qualidade das experiências trazidas pela BWW nos temas abordados. Sua capacidade em explorar casos implementados que fazem refletir em possíveis adaptabilidades a preenchimentos de lacunas ainda existentes em nosso Brasil para os setores de saneamento, água e meio ambiente, faz da BWW um ambiente no qual certamente todos os atores podem encontrar discussões abrangentes e qualificadas, que vão além da área técnica do conhecimento científico, mas abrange todos os aspectos políticos, econômicos e administrativos necessários a atender às interrelações setoriais que promovem boas práticas na implantação de políticas públicas eficazes e capazes de modificar e melhorar as atividades de planejamento e operação, que consequentemente promovem quando assim desenvolvidas a melhoria da qualidade da população. Sendo assim, comprovadamente, a BWW é um instrumento de mudança para práticas nas atividades dos setores já destacados, bem como a cada edição vem contribuindo para um futuro mais justo, saudável e sustentável para todos.
Portal ABES Notícias – O que a Brazil Water Week está trazendo de novidade no seu tema?
Sérgio Ayrimoraes – Uma das grandes novidades do tema 3 consiste na visão integrada das questões relacionadas ao reúso de água, à gestão e manejo de resíduos sólidos e à adoção de soluções baseadas na natureza com foco em segurança hídrica, que serão abordadas em três sessões técnicas. Em comum, uma interface grande entre as políticas nacionais de saneamento, de recursos hídricos e de meio ambiente, bem como em seus reflexos no desenvolvimento socioeconômico e na sustentabilidade das cidades e bacias hidrográficas.
Josivan Cardoso- O tema que estamos abordando vem ter seu desenvolvimento a partir de três subtemas, o Reúso – Avanços no reúso de água: tecnologias e políticas para uma gestão hídrica sustentável, a Gestão estratégica de resíduos sólidos: caminhos para eficiência e sustentabilidade e as Águas futuras: revitalizando recursos com soluções baseadas na natureza (SBN) para segurança hídrica. Sendo assim, a novidade que merece ser ressaltada, além da qualidade temática e das discussões, é a integração dos setores, cujo aspecto torna-se fundamental para reflexões holísticas da forma de promoção das políticas e atividades a serem implementadas para este tema. A BWW faz nesta edição a inovação de inserção deste tema, considerado novo na estrutura, antes ainda não abordado em anos anteriores, e com isso, aumentando a capacidade e a promoção do que sempre procuramos: envolver em um único ambiente as diferentes abordagens para que entendidas como unidade harmoniosa possamos entender suas interdependências. E por conseguinte, que os processos e recursos sejam mais otimizados e possamos melhor gerar nossas metas de alcance de um objetivo comum – neste caso a sustentabilidade, a equidade social e a promoção das boas práticas nas áreas de meio ambiente, saneamento e recursos hídricos.
Portal ABES Notícias – Quão avançado está o cenário da economia circular e das soluções baseadas na natureza no país? Como vamos contribuir para a discussão da BWW com os outros países?
Sérgio Ayrimoraes – Imaginamos que essa contribuição seja, na verdade, uma via de mão dupla. Nas três sessões técnicas planejadas para o tema 3, contaremos com especialistas brasileiros e internacionais. E o roteiro está sendo preparado para estimular o debate e a troca de experiências, a partir de casos bem-sucedidos sobre reúso de água, resíduos sólidos e soluções baseadas na natureza.
Josivan Cardoso – É notório a movimentação dos diversos setores econômicos para implementações de práticas de economia circular, bem como também na área governamental, que busca desenvolver políticas públicas e programas que visem incentivar a ampliação de alternativas para implementação do processo. Mesmo assim, são grandes os desafios a serem enfrentados, o que nos obriga a buscar cada vez mais novos horizontes de conhecimentos a partir de programas que tenham tido boas avaliações e resultados às legislações. Acredito que no Brasil, para a economia circular, temos que refletir mais fortemente sobre mais investimentos, regulação e incentivos fiscais para impulsionar essa transição de forma mais ampla e eficaz.
Quanto às soluções baseadas na natureza, que certamente não está desalinhado com o que já falamos acima, nosso país tem um vasto ambiente propício ao desenvolvimento destes sistemas, basta vermos o quanto já temos de iniciativas importantes a exemplos de casos que buscam a restauração de ecossistemas, de agriculturas sustentáveis, de gestão sustentável da água, de execução de projetos de infraestruturas verdes e até na exploração do turismo sustentável. Bem, claro que não posso destacar números para avaliar como está o avanço destas atitudes em escala brasileira, mas projetos são evidenciados. Ao entender, também é necessário refletir sobre o quanto estamos priorizando tais iniciativas. Será que estamos buscando multiplicá-las? Nossos investimentos estão sendo fonte de fomento para ganho de escala? São indagações que precisamos responder quando trabalhamos estes assuntos. Ante ao exposto, esperamos, certamente, que as discussões e experiências trazidas pelos especialistas de outros países para os debates que ocorrerão na BWW possam contribuir para que desafios existentes, bem como indagações anteriormente descritas, sejam enfrentados. Por outro lado, com os debatedores brasileiros, os demais países também poderão conhecer melhor de nossas realidades, com nossas iniciativas e nossos casos, sejam os sucessos ou insucessos.
Portal ABES Notícias – Como está sendo para você o desafio de coordenar o Tema 3 do evento?
Sérgio Ayrimoraes – Mais do que um desafio, tem sido um privilégio grande. Em primeiro lugar, por compartilhar a coordenação com um profissional de excelência reconhecida, além de querido amigo, que é o Josivan Cardoso. Adicionalmente, os assuntos tratados no Tema 3 fazem parte há bastante tempo de minha trajetória profissional, em especial o controle da poluição e a segurança hídrica. Por fim, como um dos cofundadores do Instituto Reúso de Água – https://reusodeagua.org, é particularmente gratificante acompanhar o crescimento do interesse por essa agenda pela comunidade de profissionais no Brasil e no exterior.
Josivan Cardoso – Bem, se existem desafios e eles estão nos postos e aceitamos, certamente é por entender que ao fim teremos um momento inefável, já que durante um processo só ganhamos experiências, o que é ótimo! Aprendendo mais e mais, entendendo que nos desafios entramos em oportunidades de aprendizado e crescimento. Neste caso, coordenar o Tema 3 na BWW transcende o habitual, visto que as metodologias, os processos de construção de cada tema são minuciosos ao extremo, o que deve ser e preciso. Afinal, estamos atuando para levar durante a Semana da Água no Brasil, conhecida assim, o que possa haver de mais qualificado em conhecimento nas áreas de discussão em tela. E é preciso habilidade para compor tudo isso de forma intersetorial, que promova devida amplitude no entender os aspectos políticos, sociais, econômicos e ambientais. Sem falar que todos os nossos temas, em sua construção, têm o reflexo dos conceitos do ESG. Assim, o que temos a ressaltar é que mais que um desafio, é um grande ganho de experiência.