Por Cristiane Pinto
O especialista Vitor Simões, diretor e sócio da 3P Technik, foi o convidado desta quinta-feira, 17 de outubro, da roda de conversa promovida pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção São Paulo (ABES-SP) sobre Tratamento de Águas Pluviais e Controle de Poluição Difusa.
O palestrante apresentou os produtos da empresa que representa na Alemanha, que são sistemas de tratamento de água pluvial. Ele explicou que naquele país, existe uma lei que determina que donos de imóveis tratem a água de chuva e deem destinação adequada a ela, que pode ser reutilizada para a lavagem de áreas, para jardins, etc. Ou seja, a água não escoa pela tubulação pública que, segundo ele, não existe. “A água é gerida no local, pode ser por meio de cisternas, trincheiras de infiltração, telhados verdes, não existe drenagem pluvial, é toda gerida pelo edifício, essa é a grande diferença”, disse.
A empresa para a qual trabalha desenvolve sistemas que captam a água da chuva e fazem o seu tratamento, pelos processos de sedimentação, absorção, filtração e precipitação química. A cada quatro anos, é recomendado que seja feita a manutenção dos equipamentos.
No Brasil, Simões adiantou que deve ser realizado um trabalho em um aeroporto no Rio de Janeiro, que aproveitará a água da chuva das pistas. “Vamos fazer o primeiro projeto no Santos Dumont, com a construção do filtro em concreto e a instalação de cartuchos para filtração de água pluvial das áreas de pista do aeroporto”.
Nos países da Europa e no Japão, esses sistemas são instalados, além de propriedades particulares, também em estradas, áreas públicas e empresas. Resumindo, o objetivo de tratar a água de chuva localmente é evitar que essa água chegue aos rios, pois, como em todas as partes do mundo, a população descarta lixo em áreas públicas. Quando chove, esses resíduos não são levados aos corpos d’água. Ele explicou que o tratamento de água de chuva em Portugal é idêntico ao brasileiro: existe legislação, não existe fiscalização nem aplicação daquilo que é o conceito e não existe a obrigatoriedade de implementação e manejo das águas pluviais. “É o mesmo problema que temos aqui”.
Simões esteve em Caruaru, em Pernambuco, para a instalação de 16 banheiros secos. São equipamentos que custam cerca de 1800,00 euros, que possuem compartimentos separados para receber carga de fezes e urina e não utilizam água. O material orgânico decomposto pode ser aproveitado como adubo. Estes dispositivos podem ser implantados em áreas onde não existe saneamento. “As mulheres e as crianças são as principais vítimas da falta de saneamento no Brasil e em outras partes do mundo, porque têm necessidades diferentes de proteção e segurança que não são oferecidas em lugares onde não há saneamento”, destacou.
Comentando a importância do tema, Vitor Simões ressaltou: “É um princípio, é um passo que se dá a frente, mas há muito o que se fazer, aliás, está quase tudo para fazer em área de saneamento. Todos nós, técnicos, instituições políticas, públicas e privadas temos que dar passos nessa direção para atingirmos os objetivos de saneamento básico no Brasil até 2030, caso contrário, os objetivos das Nações Unidas [ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] não vão ser atingidos”.
Álvaro Diogo Teixeira, coordenador nacional do programa Jovens Profissionais do Saneamento (JPS) e conselheiro da ABES-SP, que organizou o encontro, ressalta que esta discussão sobre o manejo de águas pluviais é um importante pilar do saneamento. “Este seria o quarto pilar do saneamento, a gente fala de água, esgoto, resíduos sólidos e água pluvial, que é um assunto pouco discutido no Brasil. Estamos muito atrasados, comparando com o que o Japão, Suíça e Alemanha já fazem. Foi muito bom para ver o que o mundo está fazendo, para a gente começar a preparar o Brasil. A gente tem muitos desafios de água e esgoto para cumprir ainda, mas, até pelo quórum e pela qualidade dos profissionais que estiveram aqui hoje, com certeza vai contribuir muito para a discussão desse assunto no país”.
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