Estudos de caso dos dois países abordam a operação dos sistemas de abastecimento de água e esgoto e das águas residuais e pluviais. O Saneamento 5.0, que busca integrar os avanços tecnológicos de ponta para transformar o saneamento de forma mais humanizada, sustentável e inteligente, também foi destaque.
Como a transformação digital está mudando a forma de se fazer saneamento foi o tema do último painel do 21º Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia sanitária e Ambiental – Silubesa, realizado entre os dias 28 e 30 de agosto em Recife, Pernambuco, e, em formato digital, em plataforma exclusiva. O evento é uma realização da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), em parceria com a Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH) e a Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Ambiental (APESB).
Confira o álbum de fotos. Todas as palestras do Silubesa 2024 ficarão disponíveis por 90 dias na plataforma do evento para os inscritos.
Roberval Tavares de Souza, diretor de Operação e Manutenção da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), abriu o painel destacando que a empresa está fazendo a transformação digital focada na operação dos sistemas de abastecimento de água e esgoto: “Dentro da Sabesp temos o projeto 4.0 de operação. A ideia é transformar o operador de campo em operador digital, trocar a picareta pelo celular e trocar a chave de manobra pelo tablet. O objetivo é ser mais eficiente, com mais agilidade e ter o cliente mais satisfeito”, declarou.
Na visão de Roberval, dentro do marco legal do saneamento existem dois grandes desafios: “O primeiro é universalizar o serviço de saneamento do Brasil até 2030 e o segundo é tornar as operadoras mais eficientes. E, para que as operadoras sejam mais eficientes, temos que fazer diferente e o projeto Operação 4.0 vai ao encontro desse tema”, explicou. Em sua apresentação, ele ressaltou que todas companhias de saneamento precisam utilizar muito mais tecnologia para reduzir custos e atingir esse objetivo.
A transformação digital nos sistemas de águas residuais e pluviais foi o tema da apresentação de António Pereira, responsável por Soluções de Performance na Direção de Operações do Grupo Aquapor, de Portugal, que participou de forma remota. “Nos sistemas de águas residuais acontecem inúmeras anomalias, sendo as afluências indevidas uma das maiores preocupações das entidades gestoras. Com efeito, a transformação digital tem um papel crucial e fundamental no incremento da gestão operacional destes sistemas”, ressaltou.
Pereira apresentou também um estudo de caso da companhia que é líder de mercado na gestão de concessões municipais e prestações de serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais em Portugal. “O estudo mostra que tendo uma amostra representativa de informação é possível através de Learning Machine incrementar a operação de forma mais célere em detrimento de modelos clássicos”. Entre outros benefícios da transformação digital, neste estudo também foi possível a identificação de distintas anomalias (ilícitos, obstruções e caudais excedentários) no sistema em tempo real.
Além da tecnologia
“Vivemos numa crise de água muito profunda com impacto mundial e que compromete o acesso a água limpa. Essa crise de água está intimamente ligada à falta de saneamento básico, mas, na minha opinião, essa crise pode ser aproveitada para umas mudanças no nosso setor, podemos transformar essa crise em oportunidade para um futuro mais resiliente e sustentável para todos nós”, garantiu Frederico Barros Lopes, da AdNorte, de Portugal, que também estava online.
Além de discorrer sobre a digitalização, o especialista abordou também o novo paradigma do Saneamento 5.0: “Esse é um conceito emergente que se inspira na Sociedade 5.0 integrando avanços tecnológicos de ponta para transformar o saneamento de forma mais humanizada, sustentável e inteligente”. Em pesquisa realizada pela empresa com seus colaboradores, 86% deles identificaram a melhora da qualidade de vida dos trabalhadores por meio da promoção da conciliação entre vida profissional e pessoal como benefícios trazidos pela transformação digital para a operação.
Troca de experiências
“Foi excelente termos esta troca de experiências sobre um tema tão relevante como a transformação digital. Foram três dias intensos de trabalho”, afirmou Jorge Cardoso Gonçalves, da LIS-Water, Lisbon International Centre for Water e da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH), que foi o coordenador do painel. A moderação deste encontro foi realizada por Carla Rolo Antunes, da Universidade do Algarve e da APRH.
“Prazer em participar de mais um Silubesa”, disse Roberval Tavares, destacando a importância da discussão do tema água, a relação da ABES com as associações portuguesas e a troca de conhecimento que o evento proporciona. “Poder trazer técnicos para falar dos modelos que existem no saneamento em Portugal e a importância deles ouvirem os técnicos sanitaristas brasileiros, isso faz com que haja uma grande união entre esses dois grandes países, que podem juntos melhorar o saneamento tanto em Portugal quanto no Brasil”, ressaltou o diretor de Operação e Manutenção da Sabesp.
“Desafios da gestão da água em contexto de adaptação climática – o caso português” foi tema do último Side Event
O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Carlos Pimenta Machado, mostrou como o país está enfrentando os desafios da gestão da água no contexto das mudanças climáticas. O encontro foi moderado por Jorge Cardoso Gonçalves, presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH).